
A colunista Betania Tanure escreve sobre o método e a coragem que as mudanças institucionais e organizacionais requerem
Problemas à vista! No atual cenário político do país, continuam fartas as discussões e acusações entre os diversos poderes.
Problemas à vista! Nas organizações, o debate entre foco em resultados e foco em pessoas “anda de lado”. Não há consistência entre discurso e prática no uso de conceitos de profundo significado. ESG. Sem isso, a empresa pode perder a Licença Social para Operar.
Problemas à vista! Na vida pessoal, são constantes os relatos de noites maldormidas, forte nível de estresse crônico e grau de sensibilidade disfuncional.
Valendo-me da riqueza da língua portuguesa, sintetizo: problemas à vista, soluções a prazo. E por que não soluções à vista? É preciso encarar de frente um dos mais repetitivos comportamentos-problema: a reclamação constante! Nas rodas sociais, nas empresas, nos grupos de WhatsApp… os incompetentes reclamam, os competentes fazem, ou seja, saem do “espaço reclamação” para o “espaço solução”.
Há três opções para você, cidadão ou cidadã que observa e se irrita com a ambiência do país, para você que não está feliz na sua vida pessoal, para você, executivo ou executiva de organizações que embalam com sofisticadas desculpas o medíocre desempenho individual ou empresarial: a primeira opção é negar a necessidade de transformação e deixar que as coisas continuem como estão. Mais: reclamar, espernear elegantemente usando uma sofisticada retórica e pôr a culpa no outro. Mais cedo ou mais tarde o país, a empresa ou você despencará abismo abaixo.
A segunda opção é ter coragem de iniciar a transformação e administrar até o final as dificuldades geradas nesse processo. Mesmo bem-sucedida, a liderança provavelmente sairá dele com cicatrizes.
A terceira opção é abandonar a organização, ou o país e permitir que alguém com mais coragem e determinação assuma o papel da liderança. E não abandone você mesmo ou você mesma!
O fato é que diferentes indivíduos e diferentes equipes realizam essa jornada, que é emocional, em velocidades distintas, o que aumenta o desafio. Isso muitas vezes tira você do prumo, pois, como a maioria dos que me leem, você é craque em jornadas racionais.
Os desafios se dão com a mesma dinâmica no indivíduo, na organização e no país, inclusive no trio de opções acima descritas. Em nível organizacional, porém, acredite, é mais fácil manejá-los. Não procrastine achando que perder o sono é normal, que ter dor de cabeça, enxaqueca ou gripes constantes “faz parte”, que tomar diariamente uma dose de whisky ou um antidepressivo, ou ansiolítico, para relaxar, não faz mal: essas práticas são nocivas quando não tratam a causa! Podem até ser comuns, mas não são normais!
Reclamar dos poderes instituídos sem fazer nada de concreto para mudar essa realidade também não vai adiantar. No curto prazo pode até aliviar o fígado das pessoas, mas não trata a causa.
Além de exigirem esforço pessoal, as mudanças institucionais ou organizacionais requerem “ir de turma”. Isso exige método, muita coragem e a capacidade de abrir mão do ego!
Fica o convite: vamos mudar do “Espaço Reclamação” para o “Espaço Solução”?
Autora: Betania Tanure (É doutora, professora e consultora da BTA)
Fonte: Jornal o Valor Economico 15/02/2024